01 — DESPERTAR
Os trovões ecoam cada
vez mais e os clarões dos relâmpagos
através da cortina formam figuras assustadoras nas paredes a minha volta. Sinto calafrios desde a última vez que me
encontrei com Ele. A minha visão é nebulosa e meus olhos estão cada vez mais
vermelhos. Mesmo com toda a chuva torrencial que cai, o calor é insuportável.
– que droga, a eletricidade
se foi e eu nem percebi.
Tento encontrar um
cigarro em meio à bagunça. A vela queima nos castiçais. O feitiço de evocação
ainda queima a minha volta. É bonito
observar isso. É lindo ver os observadores saindo e agindo entre os mortais.
Mais um estrondo, mais um raio caí a alguns metros. A floresta fica assustadora
durante a noite, e entre um clarão e outro vejo a figura de um cachorro negro
entre as arvores. Ele não parece um animal comum.
– que merda é essa?
A curiosidade é a maior
ferramenta da minha consciência e eu sempre fui guiado por ela. Sair e ver o
que era aquilo, sem duvida alguma é o
correto a fazer. Pelo menos para mim.
"Eu sou muito
imbecil"
A água esta gelada
escorre pelo meu corpo nu e meus olhos tem dificuldade em manterem-se abertos.
"Vai embora!"
O animal continua
parado observando. Não é um animal comum. Caminha devagar em minha direção e
mesmo sabendo que deveria correr. Eu não o faço. Talvez por não ter a força ou
a coragem, ou talvez por simplesmente não me importar com a minha própria vida.
– seu desgraçado! Você
veio? Agora você veio?
Por um instante a chuva
parou os ventos e os clarões não se manifestaram no céu, senti apenas uma brisa
suave e uma névoa seca envolvendo tudo a minha volta. O animal sumia diante da
minha vista como num sonho levantando-se cada vez mais, tomando uma forma
humanoide, um raio de luz avermelhado me fez cerrar os olhos, e uma mão fria
tocou meu pescoço. Pude sentir as unhas afiadas pressionando a carne. Os lábios
gelado tocando o meu...
02 — Acordando De Um Sonho?
"Que merda de
sonho foi esse?"
Meus olhos ainda
continuam vermelhos, mas dessa vez sinto uma dor de cabeça infernal. Minha cama
ao menos é macia e confortável mesmo com toda a bagunça a sua volta. Algo em
meus lábios queima uma ardência incomum. Levo minha mão de forma suave.
"É sangue!"
Mais trovões ecoam e
clarões de relâmpagos iluminam a mobília velha. As velas estão quase no fim nos
castiçais do altar. Me levanto e corro ate a janela.
– merda! Não foi um
sonho.
Não a sinal do cachorro
negro que vira a pouco, meu pescoço doí, é provável que esteja ferido. Observo
o quarto procurando algo. Às vezes penso que poderia realmente ser real. Tudo
aquilo. É real?
"Estou enlouquecendo,
nesse lugar de merda"
– não está louco.
Olho apavorado chego a
cair sobre a bagunça a minha volta. Não posso acreditar, mas é real. Uma figura
feminina com longos cabelos que hora eram negros hora vermelhos, ainda uma
irradiação avermelhada. Os lábios eram finos e deles sobressaiam duas presas
afiadas. Não foi um sonho, ou apenas um delírio da minha mente conturbada. Não
consigo me mover, estou caído sobre a bagunça de joelhos olhando para o chão,
não tenho tanta força quanto havia imaginado que teria. Minhas memórias
retornam pouco a pouco. Ela me beijou, seus lábios são frios seu toque
aterrador me feriu o pescoço.
“Ela me trouxe até
aqui?”
Não eu vim andando como um zumbi atônito,
apático e cai na cama.
"Quem diabos é
você? "
– cale essa sua boca de
merda!
Um rugido como um leão
fez soar como uma Cachoeira, com varias vozes. Era como se fossem muitos
falando ao mesmo tempo.
– Estamos aqui, e isso
é o objetivo que queríamos, você em sua ignorância nos deu a chave para
podermos vir, e cada um de nós vira através de você.
Minha cabeça dói, não
para um minuto me deixando com náuseas. Estou molhado mais não sei dizer se foi
pela chuva ou pelo suor, o calor é insuportável. Tento-me por de pé e encarar
meus demônios, não devo temer eu preciso me levantar.
– o que deseja de mim
demônio?
Ela é realmente linda,
mas sei que por traz de sua sedução está a face diabólica da morte. Ela iria me
matar? Não me importa.
– quando fez o ritual,
mesmo em sua ignorância conseguiu ativar o selo, o selo é uma chave que abre as
portas das sete moradas celestiais, a face oculta delas.
Ela sorri e seu riso é
como se um animal estivesse ali. A minha mente esta paralisada, não penso em
nada em absolutamente nada.
– que portais são
esses?
Não sei como ela chegou
ate mim, sua mão é gelada tocando meu queixo. Me faz olhar direto para seus
olhos. Grandes olhos negros e assustadores. Sinto medo.
– seu tolo... Éfeso, a
ingratidão, Esmirna o verdadeiro perseguidor, Pérgamo a doutrina do engano,
Tiatira a mentira, Sardes a apatia, Filadélfia a Besta.
– quem é você Demônio?
Uma gargalhada
aterradora, mais trovões e raios, um relâmpago clareia sua face, não vejo mais
a beleza que vira antes.
"Eu sou
Pérgamo"
03 — A Tortura de Pérgamo
*Toc!
Toc! Toc!*
– Enelac você esta ai?
– ele não deve estar em
casa!
– não me responde desde
ontem, estou preocupada.
Escuto vozes, a
principio apenas sussurros, mas conforme desperto elas ficam mais clara. Soam
familiar diferente dos ruídos grotescos de ontem a noite, essas vozes são
melodiosas cheias de ternura e preocupação, Harravave? Deve ser ela! Mesmo
atordoado e sem forças a imagem de seu rosto meigo e gentil me acalenta. Longos
cabelos ruivos, Haravave, é uma mulher excepcional, lindos olhos claros com
suas sardas salpicadas de um dourado que lhe cai perfeitamente bem combinando
com sua aura magnificamente iluminada.
– Enelac! Grita ela de
forma insistente.
Tento me por de pé,
ainda sinto o peso dos eventos aterradores que vivi nos últimos dias ali, isolado
na velha casa da floresta. Observo pelas frestas de madeira raios de sol,
pequenos filamentos de raios de sol, que tentam vencer as trevas do lugar, e
iluminar o ambiente a minha volta. Ate mesmo a luz do dia aquele lugar
permanece um tanto sombrio.
Coloco-me de pé, apenas
para mais uma vez cambalear. Não consigo
algo esta errado, não sei ao certo o que pode ter acontecido, mas a lembrança
do demônio Pérgamo esta bem nítida na minha mente, algo realmente aconteceu.
“Devo pedir socorro? É
o certo a fazer?”
Meus lábios se movem,
apenas para sussurrar algo ininteligível, como se alguma coisa ou alguém
apertasse minha garganta com força, num movimento de estrangulamento. Caio de
joelhos e sangue escorre por entre meus dentes, é uma dor inexplicável. Preciso
de ajuda, ainda consigo ouvir a voz doce de Haravave, escuto as batidas contra
a velha porta de madeira, não estou longe ainda posso rastejar até ela, minha
doce Haravave. Afogado no meu próprio
vomito de liquido vermelho ainda consigo
recordar seu sorriso, seus lindos olhos ternos a me encarar a alma.
– hum! Hum! Hum! Hum!
hum!!!
Algo pressiona minhas
costas me juntando ao piso molhado pelo sangue, sinto como se penetrasse a
pele, o sadismo da dor é inesgotável para os demônios. Consigo sentir seu
cheiro, consigo sentir sua presença consigo vela no reflexo do piso molhado
pelo fluido vermelho que encharca os tacos de madeira velha.
– hum! Hum! Hum! Hum!!!
– cale a sua maldita
boca! Ninguém vem te ajudar, apenas nós estamos aqui!
“Maldita Pérgamo,
maldito sempre será o dia em que ousei invocar-te”
Pássaros... Escuto o
cacareja de corvos, eles ecoam de forma sombria alta e assustadora, a floresta
esta agitada. Um rugido de vento sopra sacudindo todo o lugar, não consigo mais
pensar na dor que estou sentindo, não consigo me concentrar em mim. Haravave!
Será que ela esta bem, ela não deveria ter vindo até aqui.
– o corvo geralmente é
associado à bruxaria, magia, azar, mau presságio, mas também fertilidade,
esperança e sabedoria, desse modo é possível encontrá-los em filmes de terror,
contos de fadas e outros, em geral trazendo um presságio ou como um sinal de má
sorte. Simbolismos em relação ao corvo surgem a partir da sua aparência em
campos de batalha, são vistos pegando em restos mutilados de guerreiros caídos
em campos de batalha, por serem necrófagos (alimentam-se de animais mortos e
outros restos orgânicos). Na mitologia nórdica os corvos são principal símbolo
do Deus Odin, dois corvos rondam sobre seus ombros e possuem o nome de Hugin e
Munin...
Alguém esta entre nós,
não sei quem é. Escuto sua voz, sinto sua presença. Tento fitar de soslaio
buscando visualizar de onde vem à voz, na esperança de encontrar nela ajuda,
socorro. Seria mais um demônio? Mais um infernal em busca de devorar-me a alma?
– o cacarejar de um
corvo soa como "cras", que significa "amanhã" em latim.
Devido a essa crença os Antigos acreditavam que o corvo era um animal que podia
prever o futuro, revelar destinos e ter presságios ou mandar sinais.
– corvos da escuridão –
disse Pérgamo desdenhosamente.
04 — No Píer
As nuvens no céu
estavam cinza e uma brisa fria soprava os lindos fios ruivos de Haravave. Ela
tinha uma expressão melancólica nos olhos, enquanto observava as ondas
prateadas quebrando na orla. Suas pernas cruzadas com as mãos entre as coxas
demonstrando que sentia frio mesmo estando bem agasalhada com uma blusa grossa
e um xale em volta do pescoço. Com as
águas do mar tão escuras naquela tarde o azul nela me fazia ter uma impressão
indelevelmente boa de paz, harmonia. Caminhamos ate o píer depois de um almoço
silencioso em meio às conversas de transeuntes a nossa volta. Haravave
demonstrava inquietação e preocupação. Ela já vinha tendo essas reações somente
eu não observara atentamente ate esse momento. A dias estamos envolto em
silêncio e isso nunca foi normal para nós dois. Convivemos juntos desde o
colegial, ela sempre foi minha amiga, vi Havy, se desenvolver, crescer em
muitos aspectos, e não me lembro quando foi que meus sentimentos por ela
mudaram. Desde então minha luta foi tentar esconde-los. Meu medo de que se ela
soubesse algo sobre isso, a fizesse se afastar de mim, e certamente não quero
que ela se afaste. Mesmo que seja uma tortura ouvir suas aventuras, sobre amor,
paixonites e ate mesmo sobre sua fascinação doentia por Troy Delenery, um tipo
conquistador mulherengo capitão do time de futebol que adora aparecer. “Troy é
um cara de sorte”, e eu apenas um azarão que corre sem ter chances de chegar a
lugar algum.
– você desistiu?
Realmente seus olhos
são tão lindos, penetram minha alma, a tristeza em suas mínimas expressões são
visíveis para mim, a tal ponto que sinto vontade de morrer, uma sensação
nostálgica toma conta de mim e por alguns segundos tento evitar encara-la de
frente.
– eny! Não faz assim!
Havy toca meu braço com força me chacoalhando como que tentando me acordar de
um transe – já faz muito tempo Eny, acho que precisa deixar tudo isso para
trás, mas não dessa forma que esta buscando. Conclui Havy.
– não sei oque esta
falando, eu apenas estou tentado deixar tudo isso para trás de uma maneira que
eu consiga me sentir realmente bem, não sei mais o que esperar disso realmente
não sei ate onde eu tenho culpa na morte dele e isso...
Havy, de um salto me
abraça abruptamente me fazendo calar. Seu rosto é macio e gelado sua respiração
esta ofegante me fazendo desejar nunca sair daquele lugar, estar em seus braços
me trás uma sensação de segurança... Não... Esquecimento. Poucos são os momentos que não vejo diante de
mim, o momento em que meu irmãozinho Folley se foi bem diante dos meus olhos e
eu não pude fazer nada. Tem um ano que eu o perdi, ou melhor que ele foi tirado
de mim, mesmo que em meu coração eu sinta torrentes inundantes de acusação.
– não foi sua culpa
eny, você não podia ter feito nada. As coisas acontecem e de certas maneiras
que talvez nunca iremos descobrir o porquê?
Havy segurava meu rosto
de maneira firme me forçando a olha-la nos olhos, tentando a seu modo me fazer
ver uma realidade que para mim é obscura e distante. Ou simplesmente tinha medo
do que eu estava disposto a fazer. Até mesmo eu me pergunto se isso é realmente
algo certo a fazer ou apenas uma maneira de me matar sem que para isso eu tenha
que usar as minhas próprias mãos. Havy sabe, eu contei tudo a ela, desde o
momento em que eu estava na biblioteca fazendo meus estudos normais e ele
apareceu. Um homem misterioso usando trajes escuros com a face semicoberta por
um chapéu negro, quando ele parou diante de mim e me ofereceu respostas. “eu
tenho as respostas que você procura desde que tenha coragem para não ser mais
quem você é” após falar isso depositou sobre a mesa um velho papel dobrado e
desapareceu assim que o peguei, e li em escrita vermelha, bem desenhada.
A
velha cabana na colina das almas
Esteja
lá as 22horas
No papel havia um
desenho em relevo, mas como já estava demasiado gasto pelo tempo ou por estar
mal guardado, não pude identificar. Havy se preocupava, tinha medo, pois não
sabia ao certo de quem ou com quem eu estava lidando. Ate mesmo em meus
sentimentos mais profundo penso se realmente seria uma boa ideia fazer isso.
Afinal e no final tudo não pode passar de um trote do Troy e de sua gangue
imbecil, a fim de me fazer de palhaço, já os vi fazer isso, muitas vezes os vi
atormentado os mais fracos e os humilhando. Mas aquele homem obscuro tinha algo
que não me deixava mais dormir, uma inquietação no espirito que me cutucava
noite após a noite depois do dia em que eu o encontrei na biblioteca.
– não pode aceitar um
convite de alguém que você nunca viu, a colina das almas é um local perigoso
tem lobos na montanha, todos sabem, estamos no inverno e a neve e o frio serão
intensos nesses dias,– argumentou Havy.
– havy eu sei e entendo
sua preocupação, mas é algo que estou realmente decidido a fazer, tenho
ponderado sobre isso há muitos dias você sabe, estou certo de que não vou
encontrar nada lá além de frio e gelo.
Talvez esteja mentindo
pra mim mesmo, todos aqui conhecem os perigos que rondam as montanhas e a
floresta, ninguém ousaria subir para lá nesta estação, não da forma dura que
esta sendo esse inverno, mas eu não sinto medo, mas apenas um vazio insuportável
que nada consegue preencher nem mesmo o terror de ir a colina das almas.
– realmente não sei
mais oque disser a você que possa ter um efeito positivo, ou que faça você
mudar de opinião.
Uma lagrima escorreu
pela face de havy, entre as sardas douradas, e senti uma agulhada no estomago,
me fazendo engolir em seco, a tristeza de havy me abalara muito, a tal ponto
que precisei conter minhas emoções.
Ela me abraça
novamente, não... Eu que faço isso, trago-a de encontro ao meu corpo e tento
confortá-la;
– eu te amo eny, não
quero que nada aconteça com você, você é a única pessoa que eu tenho e ficar
sem você ou se quer imaginar não vê-lo mais me faria desejar a morte, você é
meu único amigo.
– eu vou ficar bem,
prometo. Apenas preciso ir em busca das respostas, e sinto que o homem obscuro
as pode me dar.– Desta vez eu seguro a face de havy olhando-a diretamente nos
olhos,– escute eu vou ficar bem eu prometo, nada vai me fazer mal.
– você promete?
– sim! Dou minha
palavra. Agora precisamos ir esta ficando tarde e você esta toda tremula e com
frio.
– sim eu estou mesmo.
Concordou havy secando as lagrimas com as mangas de sua pesada blusa.
– sua maquiagem ta toda
borrada, vamos você esta horrível.
– por culpa sua seu
idiota! Disse ela enquanto me socava de leve os ombros e sorrindo.
O sol entre as nuvens
agora tinha um aspecto prateado, o por do sol ali no píer era lindo de se
observar, momentos assim eu levaria comigo por toda a minha vida.
5 — Um Homem Obscuro
– solte-o
imediatamente!
Ouvi uma voz grave e imponente
soar a alguns passos de distância. Pude sentir a pressão que Pérgamo exercia
sobre minhas costas com a ponto do salto enfraquecer e tremular. Seja lá quem
realmente havia chegado, causou medo e
temor em Pérgamo. Senti um alivio que de inicio era imperceptível, mas que a
cada segundo aumentava mais e mais, sentindo o ar retornar aos meus pulmões
forcei uma respiração ofegante enchendo os pulmões de ar. Não conseguia pensar
em mais nada, apenas em continuar respirando o mais profundo que podia. “minha
boca esta novamente normal, a alguns minutos era como se estivessem costuradas,
lábios costurados e sangrentos” toquei meus lábios estavam doloridos e feridos,
em meus dedos gotículas de sangue, todo meu corpo estava debilitado, dolorido e
coberto por hematomas. O sadismo de Pérgamo realmente não tinha limites, um ser
realmente perigoso, cheio de ardil e malicia. Virei-me em busca de encontrar o
meu libertador, não para agradece-lo pois sentia ainda que toda aquela tortura
poderia não ter fim, mas apenas para entender quem era tal criatura capaz de
parar um demônio como Pérgamo.
– você! – Balbuciei entre
golfadas de sangue que ainda expelia pela boca.
O homem obscuro de
chapéu negro, o mesmo que me trouxera até aquele lugar, o mesmo que me
prometera respostas para minha vida cercada de mistérios dor e perdas, o mesmo
ser que me enganara para me aprisionar naquela maldita colina fétida e gelada.
Ele vestia um terno completamente negro e em sua mão esquerda se apoiava em uma
espécie de bengala com crânio, um pingente dourado desenhava a forma de um
dragão pendurado em seu pescoço, ao levantar a fronte pude ver seus olhos, eram
de um brilho dourado como lâmpadas algo que eu nunca tinha visto antes. Ele
sorri com canto da boca e saca do bolso de seu sobretudo um maço de cigarros.
*TINCK!*
Acende o cigarro e da
uma tragada demorada como se estivesse saboreando a melhor refeição que comera.
Caminha a passos lentos como se estivesse carregando um enorme peso sobre os
ombros, uma sombra escura se forma a sua volta conforme ele se move as coisas a
sua volta parecem tremeluzir, como se enormes asas as levassem consigo. Uma
energia diferente toma conta da velha cabana da colina das almas. Sinto que
Pérgamo começa a se afastar lentamente quase que em reverencia.
“Ela o teme, isso posso
apostar” penso em meio a pensamentos desconexos e confusos. Não imagino oque
fazer não imagino uma saída, estar preso a mercê de forças que nada carnal,
pode derrotar.
“OQUE FOI QUE EU FIZ?”
– você fez exatamente o
que precisava ser feito eny, meu querido eny. Quando sentimos sua sombra de
imediato sabíamos que você seria o escolhido para nossos objetivos, e cá esta
você, – o homem obscuro da mais uma tragada e bafora a fumaça do cigarro em meu
rosto – bem onde queríamos que você estivesse.
– para me torturar e
matar! Grito – essas eram as respostas que tinha, quando me ludibriou? Por
acaso também é um demônio que se diverte ao torturar as almas dos fracos?
– cale-se! Um estrondo,
o som de muitas aguas, um fleche de raios azulados explodem pelo lugar. Vejo
Pérgamo se afastar ainda mais. Mesmo assustado ela desliza suavemente entre o
vestido vermelho, uma serpente a rastejar de forma sedutora. Seus seios fartos
num decote exuberante flutuam na frente de qualquer mortal que a veja. Ela
esconde muito bem a sua verdadeira face, assim ela seduz e engada todos os que
ela deseja possuir.
– não ouse se dirigir a
mim de tal forma. – Desta vez sua voz sou meiga como se tivesse a imitar a fala
de uma criança, mais uma tragada e outra vez sinto a fumaça trincar meu nariz –
se recomponha meu querido eny nada vem de maneira fácil, e eu não te enganei,
apenas que nosso doce Pérgamo se deixou levar pela diversão.
Pérgamo vendo que o
homem obscuro lhe estendera a mão veio submissa em sua direção se ajoelhando
diante dele como um cachorrinho dócil, uma cadela infernal. Ela massageia as
partes intimas do homem obscuro enquanto me olha de maneira lascívia. Ele
apenas olha-a de tal forma que fica explicito suas intenções de possui-la.
“malditos demônios, vão
fazer isso bem diante de mim?”
– não é o momento meu
docinho Pérgamo, temos assuntos a tratar, e você também.
Com o apoio em crânio
da bengala ele força a cabeça de Pérgamo através do de seu queixo delicado, e
com um beijo lhe ordena, – vá!
*Wooosh!*
Um vendaval tal qual um
redemoinho se forma em volta dela, e num piscar de olhos Pérgamo desaparece do
lugar, deixando apenas as velhas cortinas a balançar e algumas cadeiras caindo
pelo chão. O homem obscuro voltasse para
mim, estou de joelhos observando toda a cena a minha frente apático e sem
forças.
– vamos, é hora de
recompor suas forças, e te preparar para o trabalho que nos prestará, após isso
darei a ti as respostas que procura e a alma daquele a quem deseja vingar.
Fico perdido ainda mais
e por um momento as palavras do homem obscuro não fazem sentido algum para mim,
para onde vou agora? E em meu estado sou incapaz de caminhar, para onde vai me
levar?
– não sei como pretende
me fazer sair daqui, estou desfalecendo congelando e incapaz se quer de me por
de pé. Respondo entre soluços de sangue.
– Pymatu uuuuuu!!!!!!!
*ESTRONDO*
6 — Demônio Pymatu
Um clarão de luz
ilumina todo o ambiente. Entre essa explosão de energia uma criatura caminha
devagar em minha direção. Estende sua
mão tocando minha fronte, o seu toque é gelado e uma corrente de energia
transpassa meu corpo fazendo minha cabeça girar. A minha volta as paredes e a
mobília velha parecem se distorcer. Um circulo azulado se forma a nossa volta e
sua vibração poderoso faz todo o ambiente tremer tal qual um terremoto. A
figura sinistra de Pymatu é séria, sua face sem expressão. Seus olhos
avermelhado caem sobre mim, encarando-me friamente e fixamente enquanto
pronuncia um encantamento.
– TRA.PE.RE.IN!
“SILLLLLLL”
***
No começo o gosto é
meio estranho, um doce enjoativo e que chega a causar ânsia, vômito. Meus olhos
lacrimejaram por um instante, e minha fisionomia está um pouco pálida. Eles
ficam a minha volta com olhares fixos. Sorriem com sarcasmo."Idiota"
murmura um demônio enquanto ri de maneira estranha.
Mais risos, um dos
seres se aproxima e oferece a taça novamente. Faz um gesto com uma das mãos
indicando para que eu beba.
– O gosto é horrível, –
afirmo enquanto beberico mais um gole – muito horrível mesmo.
– Não importa, a partir
do segundo gole fica melhor... E então a essência passará a correr pelo seu
corpo.
Esse ser
definitivamente é uma figura estranha, sua face arredondada, com uma barba em
cavanhaque escorrendo ate altura do peito esses pelos cinzas e brancos se
misturam, seu cabelo é de um tom claro quase loiro, e sua estatura é pequena
formando uma figura ovoide a minha frente , mesmo que sua presença seja muito marcante e forte, sua vestimenta é negra, sua
pele branca e pálida. Um branco incomum carregado de uma energia mórbida. Seus
dentes são afiados posso perceber isso. É pontiagudo tal as presas de tubarões.
– Por que disso Tudo? –
Pergunto após tomar outro gole do liquido.
– É necessário para o
que vai fazer por nós. – Pymatu responde de maneira macabra, com um tom de voz
sinistro que faz meu corpo inteiro vibrar.
***
“Ele estava certo não
parece ruim agora. O gosto esta bem melhor”
Vejo o demônio Pymatu
se levantar e se juntar com os demais que lhe acompanham. Dois sujeitos
esguios, entre eles o homem obscuro. São figuras intrigantes. Mas que passam
despercebidos entre os mortais da cidade da nevoa, foggy city.
– Acha que ele será
capaz Pymatu?
Pymatu olhou-me mais
uma vez. Examinando-me fixamente.
– sei que seu
julgamento não deve ser questionado meu senhor. – Pymatu fala de forma lenta e
rouca. A um sussurrar assustador em sua maneira de se expressar. – Mestre não
se deixe importunar pelas insolências de desse teu servo, mas me preocupa se
ele poderá ser realmente aquele a quem buscamos?
– Pymatu sua sabedoria
e obediência lhe darão honra e poder, é hora de partirmos.
O homem obscuro se vira
num movimento rápido e sai pela grande porta avermelhada deixando apenas o
rastro de seu, sobretudo que agora para mim se pareciam como uma grande capa
negra a flutuar no ar.
– Obrigado meu mestre,
e quanto a ele? Pergunta o pequeno demônio enquanto aponta para mim, num tom de
desprezo.
Pymatu produzia um som
intrigante ao falar, a voz ligeiramente fina me irritava. Tento me colocar de
pé, mas meu corpo ainda está trêmulo e debilitado devido a toda tortura imposto
por Pérgamo, debilitado o suficiente para me fazer desmaiar ou pior morrer
neste lugar.
– Não se preocupem
comigo, sei me virar sozinho. – Respondo de maneira firme enquanto me esforço e
finalmente consigo me recompor. Mesmo não entendendo ainda onde eu estava, num
esforço de parecer forte, afinal não tinha outra escolha eu precisava sair
desse lugar, cair nas mão de Pérgamo novamente não era uma opção para mim não
outra vez.
Eles riem de mim, como
se eu fosse apenas uma marionete no jogo onde eles dão as cartas. Eu sábia
disso sábia que seria apenas uma marionete nas mãos de seres como eles, seres
fantásticos afinal. Mesmo tendo consciência do grau de maldade que os
acompanham, ainda assim são seres extraordinários que minha mente nunca fora
capaz de conceber a existência real de tais criaturas, pois minha consciência
frágil e mortal, ainda não estava aberta a descoberta de um mundo como este.
Agora, no entanto compreendia também, que não era mais possível voltar atrás.
– Como encontrarei
vocês novamente? – Pergunto finalmente.
Pymatu olhou-me de
forma fria, senti o seu desprezo por mim, senti que para ele, eu não era
absolutamente nada.
– Nós encontramos você,
– respondeu o demônio enquanto sumia em meio a um vendaval de energia cinza.
7—Voltando para casa
Ainda estou na
floresta, observo as redondezas tentando me localizar, não devo estar longe da
colina das almas e da velha cabana abandonada. Gotas de uma chuva gelada caem
sobre meu rosto, ainda esta muito frio. A minha frente se desdobra uma estrada
de cascalhos brancos em meio a vegetação densa. Estou pelo menos uns10
quilômetros de foggy city. A caminhada será bem mais longa e exaustiva do que
eu poderia imaginar. Sem me deter mais naquele lugar caminhei de forma lenta
aumentando os passos de vagar. Raios de sol entre um céu nublado podia ser
visto após alguns minutos, e em pouco mais de uma hora já andava pelas ruas
desertas de foggy city. As ruas estavam vazias, um vulto atrás da cortina em
uma construção me chamou atenção, era a sra. Witcks, a velha senhora witcks
sempre observava toda a movimentação ao redor, e do seu terceiro andar podia
observar bem o fluxo de pessoas pela avenida dupla que cortava a cidade das
nevoas. As paredes tinham uma coloração cinza, diferente do colorido em dias
ensolarados, o frio fazia com que seus habitantes se mantivessem fechados em
suas casas. Alguns poucos veículos estacionados, decoravam a visão de uma
cidade pacata e tranquila, esta era foggy city.
Rua
sanctus elementun 58
O apartamento de
segundo andar estava da mesma forma que eu havia deixado a pelo menos dois
dias, um cheiro estranho vinha da cozinha onde alguns pratos com oque fora
minha ultima refeição apodreciam acumulando algumas moscas.
“mas que droga, tenho
que limpar essa bagunça”
Não gastei mais que 40
minutos para organizar tudo e me deitar na banheira sentindo a água morna e
relaxante aliviando as tensões do meu corpo, ainda meditava em tudo oque eu
havia experimentado e por um instante tudo se parecia muito com uma historia de
ficção, ou um sonho, melhor um pesadelo.
Ainda não tinha ideia do que estava por vir, e entre esses delírios
pensei se realmente tudo não havia passado de uma alucinação. Me demorei observando em meu corpo os sinais
da tortura de Pérgamo, sem essas cicatrizes eu realmente nuca acreditaria que
aquilo havia sido real. Algumas vezes me recordo de Havy, e de como ela deve
estar preocupada com tudo o que aconteceu, nossa ultima conversa, meu sumiço
inesperado, afinal já fazem dois dias que eu me isolei na velha cabana, “ou
seria mais?’
“talvez eu devesse
ligar para ela”
Pensamentos assim
permeavam a minha mente, me fazendo sentir náuseas e uma preocupação estranha
com respeito a tudo oque eu buscava encontrar no meu isolamento. O homem
obscuro é realmente uma figura sinistra, muito mais que Pérgamo, ou o próprio
demônio Pymatu. Seres realmente estranhos que ainda não sei ao certo ate aonde
irão me manipular.
*DING! DING!*
O som alto da campainha
me tirou dos mundos mentais onde me perdia em questionamentos. Realmente não
estava esperando visitas, apesar de que poderia ser Havy, em busca de saber
sobre minha situação. Caminhei de vagar
ate alcançar maçaneta e girar lentamente, atrás da porta um homem de meia
altura usando uma roupa azul, e boné. Carregava ao lado do corpo uma mala grande
de cor preta, era ao estilo dos carteiros mesmo que sua aparência me transmitia
algo de mais sombrio.
– senhor Enelac stormy?
– sim, sou eu.
– para o senhor, assine
aqui, por favor.
Após me entregar um
envelope de papel amarelado, o homem se retirou de forma rápida sem olhar para
traz. Um envelope grande não muito pesado, fechado por um selo vermelho
arredondado na figura de dois dragões entre cortados por uma espada. Sentei-me
em um dos acentos ali e o abri para me deparar com um pequeno bilhete escrito
em papel comum e algumas fotos. O bilhete dizia:
Caro
Enelac Stormy, que bom saber que se recupera de seu infortúnio anterior e
momentâneo, desejamos melhoras, mas que não a tempo a perder e segundo oque já
anteriormente lhe foi informado é tempo de colocar em pratica os nossos
intentos e para isso sua ajuda é de suma importância, junto com esta carta lhe
enviei algumas fotografias, estas lhe mostrarão o motivo de termos vindo em seu
encontro quando nos chamou, é para este trabalho que sua sombra foi conjurada.
Não desejo que sofras mais dano por isso me encontre no café rose amanha às 19
horas e irei lhe dizer alguns outros por menores do trabalho que lhe compete.
Ass.
H.O
As imagens nas
fotografias eram da igreja Antiga das almas santas, Gamlehelgen,
imagens do mosteiro abandonado e das criptas que ficam no mesmo terreno onde a
construção foi edificada. A ¹paróquia era administrada pelo padre Raseck pároco
a muitos anos de Gamlehelgen, eu mesmo havia crescido ouvindo muito dos seus
sermões, pois minha família sempre foi religiosa e seguidores fiéis da doutrina
²ortodoxa. Não havia duvidas em minha mente que o recado viera do homem
obscuro, por mais que não tenha revelado seu nome para mim, ele lia meus
pensamentos e sabia que eu o chamava assim e ate mesmo brincava com isso agora.
Por um momento pensei em fugir da cidade das nevoas, deixar foggy city para
trás e esquecer tudo, mas que males maiores eu poderia criar para aqueles que
eu amo, Pérgamo poderia muito bem se vingar assassinando alguns deles, ou pior
a cidade toda. Nunca em minha mente fora concebido tamanho poder em criaturas
que ate pouco tempo atrás para mim eram realmente mitológicas. E não saberia de
outra forma como resolver toda essa confusão em que me meti se não por mim
mesmo encarando toda situação. De um salto resolvi em minha mente que não
poderia ficar a mercê mais uma vez de Pérgamo, se eu teria que enfrentar o
momento de estar frente a frente com esses seres eu deveria buscar uma maneira
de ficar pelo menos em algum tipo de vantagem.
“eu me meti nessa
confusão, então tenho que me preparar melhor”
Revirei a escrivaninha
em busca das anotações que fizera antes, passei alguns meses fazendo
planejamentos e comprando objetos.
“mas é claro, como não pensei nisso antes,
Elym!”
¹A paróquia é uma
subdivisão territorial de uma diocese, eparquia ou bispado,
dentro da Igreja
Católica, a Comunhão
Anglicana, a Igreja
Ortodoxa Oriental, a Igreja
da Suécia, a Igreja
Presbiteriana (embora não possua governo episcopal) e de algumas
outras igrejas. A palavra "paróquia" é também usada para se referir
de um modo mais geral ao conjunto de pessoas que frequentam uma determinada
igreja. Neste uso, uma paróquia é um ministro que serve uma congregação.
²A Igreja Ortodoxa é uma igreja cristã, considerada, como
uma doutrina semelhante
à da Igreja Católica,
mas como o termo mesmo diz, possui uma doutrina mais reta, mais rígida. ... A Igreja Ortodoxa se vê como a
verdadeira igreja criada
por Jesus Cristo, além de não reconhecerem o Papa como autoridade.
8 — Elym A Garota Da Loja
Quando cheguei à loja de Elym, meus olhos brilharam, os objetos decorativos símbolos pendurados e velas aromáticas sobressaltavam das prateleiras. Uma vasta coleção de livros adornava um canto da loja deixando no ambiente um ar totalmente místico e fantástico. Elym esta por traz do balcão folheando um livro marrom com capa de couro em quanto bebericava uma xicara de chá quente. Ela me olhou por sobre o grande volume em suas mãos e sua expressão foi de terror, por um momento ela ficou paralisada para em seguida vir ao meu encontro rapidamente me alçando num abraço caloroso.
– oque você fez garoto? Onde você estava?
Por um instante apenas fiquei em silêncio, uma energia agradável transpassou do corpo de Elym para o meu, ela era realmente uma bruxa poderosa, boa e amável. Ela foi a primeira pessoa a recomendar que eu não praticasse a magia sem antes ter uma iniciação, me aconselhou a se unir ao seu coven e mesmo com todas as suas boas intenções eu estava ali agora envolvido em questões que fugiam a compreensão humana.
– não sei por onde começar Elym aconteceu coisas que talvez não deva nem mesmo lhe contar. – Falei de maneira triste.
Elym me olhou assombrada, seus olhos estavam tristes e sua face corada.
– você fez não foi? Você realmente fez?
– sim, mas o que eu não esperava era que iria realmente funcionar que eles iriam realmente aparecer, mas aconteceu algo pior Elym, mas não quero te envolver, eu quero apenas que você me oriente em algumas questões que sei bem, será pequena pra você.
Elym me olhou por um instante como que lendo todas as minhas expressões lendo minha energia interior, após uns instantes sua pele ficou rubra e ela se afastou lentamente.
– despertou as sombras? Como pode fazer isso, eu sabia que você era um rapaz especial Enelac, mas não acreditei que seria capaz de abrir esse portal, não deveria ter feito isso. Exclamou num tom aterrador.
Não sei como poderia declarar em palavras que nem mesmo eu saberia dizer como eu fiz isso, mas Elym não iria nunca acreditar, me considerava talvez um prodígio, mas eu mesmo apenas me sentia como um garoto bobo que esbarrou por sorte ou azar em uma força que a muito estava perdida, me questiono com as palavras do homem obscuro, quando disse que estavam esperando por mim. Elym seria capaz de me entender ou apenas ficaria ainda mais claro para ela que eu havia enlouquecido. Antes mesmo de concluir meus pensamentos Elym pegou em minhas mãos apressadamente me levando para uma porta atrás do balcão onde fica uma sala de atendimento. Um tapete grande cobria todo o chão nele podia ser visto símbolos e selos secretos desenhados de uma maneira meticulosa com esmero. No centro uma mesa de madeira grossa de formato arredondado decorada com uma toalha com bordados violetas, sobre ela uma bola de cristal alguns cristais pequenos e um baralho de tarô.
– aqui podemos conversar com privacidade: falou enquanto dizia um encantamento numa língua estranha e gesticulava algo no ar usando um bastão de madeira.
Por uns instantes nada aconteceu, mas de repente observei o que parecia ser pequenos orbes brancos ziguezagueando no ar e multiplicando-se a nossa volta formando uma grande bolha de luz branca. Elym rapidamente veio em minha direção como que pressentindo algo aterrador.
– diga-me ande quem veio até você? O que pediram?
Fiquei paralisado sentia uma energia poderosa vinda de Elym, me causou uma pressão na cabeça ao mesmo tempo como se uma mão realmente estivesse pressionando meu crânio.
– Elym não é seguro falar sobre isso, não é seguro para você eu temo que...
Elym interrompeu minhas palavras, uma angustia saltava-lhe os olhos.
– eny não temos tempo a perder se quem eu estou imaginando veio até você temo que toda a foggy city cidade da névoa esta condenada. – Disse Elym aterrorizada.
– o homem obscuro é um demônio, um súcubo chamado...
*BOOMMM!*
Uma explosão ensurdecedora estremeceu a loja e uma poeira cobriu toda a sala. A mesa com os objetos de Elym voaram longe e o circulo de orbes foi totalmente varrido a nossa volta por um vento gelado que faziam ate mesmo os ossos doer.
– hahahahahahah!!!!! Garoto idiota!
Uma voz soou em meio a poeira que se elevou sobre a sala
– Pérgamo!
Nossas vozes soaram uníssonas enquanto observávamos o demônio adentrar por uma passagem flutuando diante dos nossos olhos. Era Pérgamo, tão linda e terrivelmente assassina como antes.
– Enelac fuja!!!!
Elym gritou enquanto girava seu bastão formando uma orbe vemelha, e após pronunciar algumas palavras em uma língua estranha arremessou contra Pérgamo. Um novo estrondo sacudiu a loja fazendo com que o restante da mobília no local fosse totalmente dizimada. Um clarão cegou meus olhos e com o impacto meus tímpanos ficaram zunindo.
– você a pegou? Gritei já demonstrando um entusiasmo vencedor.
– eny corra agora!!!! Procure o Hired, corra agora!!!
– sua bruxa vadiaaaaaaa!!!!!!
Um som estranho pode ser ouvido, enquanto eu corria, não era algo como o quebrar, mas era algo diferente, um som molhado, continuo e penetrante. Num relance pude ver Pérgamo perfurar o abdômen de Elym alçando-a em sua lança, transpassando-o totalmente. O sangue escorria do corpo de Elym ate as mãos de Pérgamo que segurava a lança sem muita dificuldade. A cena era aterradora. Alguns feixes de luz penetravam entre a poeira de concreto, transformando a imagem quase que em uma pintura mórbida, Elym vislumbrava Pérgamo enquanto de sua boca golfadas de sangue eram expelidas.
– não vão conseguir. — Balbuciou Elym.
– bruxa idiota, nada pode nos parar agora, nossa força neste mundo esta por um pouco a ser liberada, eis aqui o exemplo do que esta por vir olhe para você.– Pérgamo conclui sua frase arremessando o corpo de Elym contra a parede.
Escutei o som dos ossos quebrando enquanto corria até a porta e entrava no veiculo estacionado em frente, acelerei o máximo que pude, não poderia ficar ali, precisava fugir o mais rápido possível.
9 — Conhecendo Um Coven
Um furgão preto segue atrás de mim em alta velocidade, observo pelo espelho retrovisor que se aproxima a cada vez mais. Faço uma conversão perigosa forçando outros veículos a frearem bruscamente na esperança de que nada daquilo fosse real, apenas coisa da minha imaginação,
Acelero em uma preferencial e avanço o sinal vermelho e viro em direção a sanctus elementun 58, não me resta muito a fazer se não voltar para casa e reorganizar as ideias, criar um plano de ação e tentar apenas continuar vivo. Elym a essa altura já deve estar morta. Não posso colocar mais ninguém em perigo, não devo envolver mais ninguém em toda essa confusão.
“afinal demônios não precisam de carros”.
Acelero em uma preferencial e avanço o sinal vermelho e viro em direção a sanctus elementun 58, não me resta muito a fazer se não voltar para casa e reorganizar as ideias, criar um plano de ação e tentar apenas continuar vivo. Elym a essa altura já deve estar morta. Não posso colocar mais ninguém em perigo, não devo envolver mais ninguém em toda essa confusão.
Desacelero em um sinal qualquer e observo que aquele ponto de foggy city esta mais deserto do que o normal, a cidade esta completamente deserta devido a neve e o frio, os moradores de foggy city se recolhem em seus lares protegidos. Acho que até seria uma boa ideia, mesmo que inconscientemente essas pessoas estão melhores assim.
*Rummmm*
Pneus fritam e deslizam pelo asfalto molhado derrapando a minha frente, portas laterais de um furgão negro se abrem e três pessoas saem rapidamente vindo em minha direção. Não tenho tempo para reagir apenas uma sensação de paralisia, sinto meu corpo congelar enquanto um deles pega em meu braço com tamanha força que parece trincar meus ossos. Sou carregado por ele e jogado dentro do furgão. Tento pronunciar alguma coisa, mas antes mesmo das palavras se formarem em minha mente sinto uma picada no pescoço, e algo queima em minha pele, minha visão começa a turvar e em segundos apago, caindo em um sono profundo.
*acorde! acorde*
Escuto uma voz soar longe ecoando como o som formado dentro de uma caverna, a voz fica cada vez mais próxima, e minha consciência retorna. Abrindo meus olhos lentamente vejo diante de mim a figura de um homem claro, de cabelos loiros e olhos grandes e azuis. Ele vira-se para o lado e gesticula como que indicando a alguém o que estava acontecendo. Logo se aproxima uma mulher de pele morena cabelos negros e cheio de cachos que escorrem até altura dos seios. Uma terceira se aproxima uma garota aparentemente mais jovem de pele apática, um olhar melancólico cai sobre mim, demoro a entender quem são essas pessoas, o que querem de mim.
– Eny consegue me entender? – pergunta o homem de cabelos loiros.
Movo minha cabeça em sentido afirmativo e tento recobrar minhas funções motoras e meu raciocínio.
– eu me chamo Hardrom, essas são Yrrami, e Maedrim, não queríamos ter feito isso, mas dado os acontecimentos fomos forçado a fazê-lo.
Acenei com a cabeça, mas ainda assim era apenas uma tentativa de ludibriá-los buscava já uma forma de fugir, quem são essas pessoas afinal? Vistoriei o local onde eu estava o segundo andar de uma construção qualquer em foggy city, poucas mobílias formavam a decoração do local, além da poltrona onde eu estava uma escrivaninha e um quadro grande formavam basicamente o campo de visão da casa a minha volta, as janelas eram grandes fechadas por cortinas claras, isso deixava o ambiente menos obscuro e sem vida.
– oque vocês querem de mim? – pergunto enquanto tento-me por de pé.
Me apoio em quanto cambaleio, mas dessa vez sem a força esmagadora de antes, ainda me sinto muito tonto e uma náusea atinge-me de forma poderosa causando em mim uma ânsia de vomito, que tento conter levando as mãos a boca.
– oque fizeram comigo? Me drogaram?
Minha voz soou rouca e furiosa. Yrrami se aproxima dando um sinal a Hardrom, como que indicando para que ele se afastasse. Yrrami vestia um vestido preto com suéter bordo, um xale dourado envolvia seu pescoço e se perdia entre os seus longos cachos. Sua fisionomia era a de uma mulher vivida e experiente, entre 36 e 40 anos seus movimentos eram comedidos e cada gesto seguia uma regra de cautela e precaução.
– Eny, escute com atenção, somos amigos de Elym, estamos aqui para ajudar.
Sua mão repousa sobre meu ombro como que tentando me acalmar, sinto uma vibração de energia correr pelo meu corpo, uma energia suave e boa, esta realmente não é uma pessoa comum, Yrrami é uma mulher com poderes e sendo amiga de Elym com toda a certeza deve ser uma bruxa.
– sei que tem muitas perguntas, – interrompeu a moça mais jovem, Maedrim. – Todas elas serão respondidas, mas agora não temos tempo a perder.
A moça olhou para Yrrami e Hardrom com aspecto sombrio e gelado, sua aparência era difícil descrever uma pele totalmente branca e poucas expressões compunham seu rosto. Um casaco masculino grande cobria quase todo o seu corpo pequeno e frágil, aparentemente sua fragilidade poderia ser apenas um disfarce para esconder um poder maior. Me senti um pouco mais consolado ao ouvir que eram amigos de Elym pois ela sempre me tratou bem e a essa altura perdera a vida por minha culpa.
– Elym! Precisam saber de uma coisa. – Digo de forma exaltada saltando da poltrona.
Yrrami mais uma vez toca meu ombro desta vez com uma expressão mais séria e angustiante, sinto uma nova corrente de energia mas dessa vez ela corre por toda área do quarto onde estamos. Maedrim olha assustada e da um sinal a Hardrom. Ele então gesticula com as mãos e pronuncia um encantamento em uma língua estranha. Uma luz brilhante se forma entre suas mãos para em seguida ele a dissipar no ar sobre nossas cabeças.
*WOOSH!*
– Enelac não temos tempo! – Maedrim grita impacientemente. – SO.A.RE.TA. MA.EDE. TRI.URDA!
*BOMMM!*
Uma explosão de luz cega meus olhos e antes que eu caia sem consciência ainda consigo ver figuras pequenas de pouco mais de um metro adentrar a sala do segundo andar aos milhares, diabretes grotescos com aparêcia de ratos. Garras e dentes afiados, ainda escuto o rosnar, como o rosnar de gatos quando estão assustados. Eles saltam sobre mim, saltam como insetos sobre a carne podre.
10 — Lutando Por Mim
A grande onda de energia cria uma supernova colorida como uma aurora boreal, e rapidamente todo o ambiente muda trazendo uma atmosfera mais pesada e poluída. Uma paisagem árida tal qual um deserto de tons amarelados se forma diante de Enelac Hardrom e Yrrami. Não se parece em nada com a cidade da nevoa foggy city, nem com o segundo andar da casa anteriormente usada para a reunião do grupo. Maedrim usando um encantamento poderoso abre um portal para a dimensão fantasma, a dimensão das guerras astrais. Os diabretes ainda continuam o ataque ferozmente por meio de suas garras afiadas tentam cortar avidamente a pele de Yrrami, que se esquiva e lança um feitiço protetor.
– Orbis ignius
Um novo clarão de luz, e do chão surgi um circulo branco que se eleva em volta de Yrrami formando um pequeno tornado, arremessando vários diabretes a vários metros de distancia.
“O poder de Yrrami é fantástico”
Pensa Hardrom enquanto caminha lentamente com um sorriso no canto da boca, seu olhar de desprezo para as criaturas é visível, Hardrom não demonstra qualquer tipo de reação de medo ou pavor, chega ao ponto de achar as criaturas fracas e patéticas.
– é o melhor que vocês têm! – grita ele enquanto segura duas criaturas em ambas as mãos e quebra-lhes o pescoço. Outra ele apenas chuta-lhe no estomago e esmaga o crânio contra ao chão deixando amostra um liquido verde. Dezenas de diabretes o rodeiam atacando ao mesmo tempo, enquanto Hardrom se debate seu corpo inteiro é tomado por mais e mais diabretes formando uma montanha onde ele desaparece. Apenas o rosnar das criaturas e de garras afiadas cortantes podem ser ouvidas.
*WORROOOOO*
Um rugido assustador e uma explosão fazem arremessar uma dúzia de diabretes enquanto em meio a pedaços de corpos mutilados de demônios um lobo negro imenso surge triturando um diabrete e o arremessando para longe. O lobo gigante parte em uma arrancada que uma pequena cratera se forma no chão abaixo de suas patas. Yrrami observa o grande logo cruzar em sua frente para fisgar dois ou três diabretes ainda no ar e os mutilar em duas partes. Ao mesmo tempo Maedrim com apenas um golpe num movimento com as mãos que simulava uma espada cortante faz toda área envolta deles ser varrida jogando os diabretes para longe. Yrrami deixa o circulo de magia se dissipar, suas mão estão elevadas a altura dos olhos, um movimento solene e lento, fecha os olhos por uns instante as palmas das mãos estão unidas, Yrrami abre os olhos eles brilham, um tom esbranquiçados e flamejantes, uma onda de energia treme a dimensão das guerras astrais, fazendo os diabretes paralisarem por um instante. O lobo gigante Hardrom se posta um pouco atrás de Yrrami e Maedrim toma uma posição de ataque, com aparência extremamente sinistra.
– EGIA. FU.A.TE.
*WOOOOSH*
Yrrami lança um encantamento após uma onda de energia correr todo o plano, orbis de luz surgem no espaço e dessem como meteoros explodindo dezenas de milhares de diabretes ao mesmo tempo. Alguns tentam fugir apenas para perecerem em uma explosão de energia fazendo com que suas carnes fossem dilaceradas. Por fim apenas crateras com liquido verde e partes de corpos ficaram no lugar.
– Maedrim – Yrrami acena para a moça pálida, – Hardrom, estão todos bem?
Maedrim sinaliza positivamente para a bruxa enquanto o lobo gigante Hardrom se aproxima de Yrrami como um cachorrinho de estimação. Yrrami ficara pequena ao lado do lobo que teria no mínimo três metros de comprimento. Era uma criatura assustadora. Num instante toda a montanha de pelo e musculo começa a desfazer-se diante dos olhos de Yrrami e Maedrim, como se a pele derretesse e de dentro da montanha de pelos e sangue surgia a figura de Hardrom nua e ensanguentada. Maedrim se aproxima rapidamente e lança sobre ele seu sobretudo, o mesmo que usara anteriormente, cobrindo o corpo nu de Hardrom, ele agradece com um sorriso.
– obrigado Maedrim, a muito não tínhamos uma batalha em foggy city, achei que tinha perdido o jeito, estão todas bem?
As duas mulheres acenaram afirmativamente com um sorriso. Yrrami observava a paisagem da dimensão das guerras astrais. Um lugar árido e sem vida. A muito tempo Yrrami não lutava nestas esferas. Isso causou-lhe preocupação, um calafrio correu por todo seu corpo dando-lhe um pressentimento ruim acerca do que estão prestes a enfrentar. Por mais que Yrrami estivesse a frente do coven de foggy city cidade da nevoa há muito tempo, seu senso de responsabilidade e devoção nunca lhe deixara cair em sua vigilância, quanto aos perigos dos inimigos que agora tentavam tira-lhes a vida.
– Yrrami? – Maedrim chamou com voz suave, – devemos voltar agora.
– sim devemos. – Yrrami acenou com a cabeça, – Hardrom?
Hardrom sorriu dando de ombros e apontando para suas roupas. Maedrim tomou uma posição diante do grupo e então lançou seu encantamento.
– SO.A.RE.TA. MA.EDE. TRI.URDO!
Uma explosão de luz distorce a dimensão trazendo os três de volta ao segundo andar, da casa anteriormente usada para esconder Eny. Yrrami vasculha todo o lugar com um olhar rápido, enquanto Maedrim caminha rapidamente de um lado ao outro dos cômodos da casa.
– Ele não esta aqui!
11—Padre Raseck
Padre Raseck bebericava uma xicara de chá quente enquanto folheava um livro grande com capa de couro e folhas amareladas sentado em sua escrivaninha. Guiseppe seu jovem auxiliar o observava de maneira silenciosa de pé em um canto da sala que era usada como escritório pelo padre.
– esta bom padre? Perguntou Guiseppe com uma voz engasgada.
– hum! O chá? Sim claro obrigado.
Padre Raseck não fitou seus olhos das linhas e nem se quer se moveu para dar a resposta, soando um tanto indiferente. Guiseppe o observava meticulosamente, padre Raseck era uma figura realmente excêntrica e diferente dos padres habituais. Uma aparência jovem mesmo com certa idade. Sempre se vestia de maneira discreta ora com o hábito ora de terno. Em seu pulso direito um rosário com uma lua tendo uma espada em relevo de ouro que emite um brilho especial. Seus cabelos negros reluziam com a luz que entrava pela janela. Padre Raseck era um homem rigoroso com a fé e sua paróquia, também cuidava muito bem de assuntos políticos e no trato social até mesmo com a comunidade mais carente de foggy city cidade das nevoas ele era bem quisto. Seus afazeres diários incluíam além do estudo e da manutenção da igreja Antiga das almas santas, Gamlehelgen. O atendimento espiritual aos dependentes químicos de foggy city, ele mesmo criou uma ala no antigo mosteiro abandonado para os abrigar com apoio das viúvas de foggy city, mulheres da alta sociedade que o financiam com suas obras sociais. Padre Raseck viera para foggy city a pouco mais de dez anos, desde então sua missão vem se cumprindo desta forma sem mais que pequenos aconselhamentos matrimoniais e viciados para atender e acolher.
Enquanto Guiseppe ainda de pé comtemplava a figura de Raseck, observou que as expressões do padre mudaram. Franzindo sua fronte para logo depois se tornar em algo serio e indefinido. Seus olhos fixos pareceram não estar dentro da sala, mas observando algo além.
– padre?– Guiseppe pergunta de forma envergonhada. – Algum problema?
Uma onda de energia vibra no corpo de padre Raseck e ele sente essa força subir desde seus pés ate o alto de sua cabeça. Padre Raseck fica imóvel como que deixando sua sombra espiritual se elevar. Em seu pulso seu rosário com contas douradas feitas de ouro, emitem um brilho branco uma aura diferente se torna palpável para padre Raseck. Apos alguns segundos contemplando a alteração em sua energia padre Raseck se põe de pé em um movimento rápido e caminha para a porta deixando Guiseppe ainda mais assustado.
– tenho que sair, não devo demorar. – Diz padre Raseck pegando seu chapéu e um, sobretudo.
– mas padre a Sra. Witcks e as viúvas estão a caminho falto pouco para o horário da reunião...
Antes mesmo de Guiseppe completar suas preocupações a porta se fecha atrás dele e Raseck sai em disparada para fora do templo. Padre Raseck caminha apressadamente por alguns metros, observando atentamente os movimentos a sua volta ate se encontrar em uma rua aparentemente deserta. Padre Raseck fecha os olhos por um instante e eleva seu punho direito ate altura da cabeça de forma que seu rosário em forma de lua fica diante de seus olhos, com sua mão esquerda ele segura o pingente arredondado com contas douras e fecha os olhos mais uma vez.
– Poderoso Yahel, revela-me as sombras ocultas na luz! Sou teu servo te servi uma vez e servirei eternamente.
A voz de Raseck soou melodiosa, quase que mantrada doce e gentil. As contas douradas do crucifixo aumentaram ainda mais seu brilho mudando totalmente de dourado para um branco celestial. Padre Raseck toma então uma postura de batalha e puxa o cordão de contas com toda força, invocando seu encantamento.
– SI.DE.RA. PO.LUS. FLA.GE.LUM!
O pequeno rosário de contas douradas segue o movimento do padre e se estica tal qual uma espada sendo desembainhada, num segundo movimento padre Raseck o lança em direção a um ponto qualquer da rua e uma onda de energia branca distorce todo o ambiente a sua volta. O rosário de contas agora se parece realmente com um chicote de cerca de três metros de comprimento. Mesmo sendo lançado por Raseck esse estranho objeto não cai ao chão, mas fica de forma vertical pairando no ar como uma grande serpente, serpenteando no ar ligado ao pulso do padre. Seu brilho agora é uma mistura de branco com dourado. Padre Raseck num movimento rápido faz com que ele se movimente, um movimento espiral que distorce ainda mais o mundo material a sua volta ate se tornar um grande redemoinho de energia que termina em um circulo de pouco mais de dois metros a sua frente. Padre Raseck consegue então observar o portal a sua frente, e ao observar isso sua expressão foi de satisfação. Lança então seu encantamento e num movimento com apenas uma das mãos ele puxa para si o grande flagelum, que volta a sua forma original numa fração de segundos. Padre Raseck toma posição de caça tal qual um lobo. Uma explosão de energia pode ser ouvida enquanto o padre salta deixando para traz apenas um cratera e destroços do asfalto que explodem atingindo as construções. A energia se expande por todo o lugar fazendo com que algumas arvores ao entorno sacudam violentamente. Padre Raseck se lançou certa de três metros para dentro do portal a sua frente num único movimento.
***
– Enelac não temos tempo!– Maedrim grita impacientemente. SO.A.RE.TA. MA.EDE. TRI.URDA!
*BOMMM!*
Uma explosão de luz cega meus olhos e antes que eu caia sem consciência ainda consigo ver figuras pequenas de pouco mais de um metro adentrar a sala do segundo andar aos milhares, diabretes grotescos com aparência de ratos. Garras e dentes afiados, ainda escuto o rosnar, como o rosnar de gatos quando estão assustados. Eles saltam sobre mim, saltam como insetos sobre a carne podre.
***
Padre Raseck saca um livro do bolso de seu, sobretudo e abre em uma pagina com apenas uma das mãos e lança um encantamento em forma de oração enquanto observa a dimensão das guerras astrais ser aberta dentro do segundo andar da casa. Antes que Enelac caia ao chão padre Raseck o ampara com uma única mão ao mesmo tempo em que observa os diabretes invadirem toda a dimensão das guerras astrais. Enelac ainda em vias de perder os sentidos reconhece a figura forte de padre Raseck.
– Padre!
– vamos garoto, vamos embora desse lugar.
– vamos garoto, vamos embora desse lugar.
12– Niceia 325 D.C
O imperador observava atentamente os objetos reluzentes sobre a grande mesa meditando profundamente na grande beleza e poder que irradiavam. Nunca em sua vida tinha visto tamanha dignidade e temor como agora. Seus olhos reluziam e sua face tremulava enquanto contemplava as peças a sua frente, fazendo com que os demais presentes no grande salão ficassem atônitos e sem reação. Respirações profundas podiam ser ouvidas de todos que estavam presentes ao mesmo tempo em que uma brisa gelada invadia o castelo quebrando o silêncio e a concentração de todos. Eusébio de cessareia anotava tudo meticulosamente em seus pergaminhos enquanto alguns apenas observavam sem saber realmente do que se tratavam as peças depositadas sobre a mesa. Realmente nada daquilo poderia ser explicado facilmente e o imperador sabia certamente que para alguns o melhor seria a ignorância sobre tais artefatos. Uma coisa era certa em sua mente, as palavras que seriam ditas ali não eram fáceis de digerir nem seria conveniente para os povos comuns saberem da existência de tais coisas, assim sendo estavam presentes na sala os lideres espirituais representantes da santa igreja que deveriam compreender melhor o verdadeiro motivo de tal assembleia.
– imperador? – um velho bispo chama de um canto da mesa, expressando em seu tom respeito e reverência.
– Evágrio! Prossiga!
Evágrio nascera em Epifânia, uma humilde cidade na Síria Salutar localizada perto do rio Orontes, no coração do Império Romano do Oriente. Acadêmico e estudioso das mais variadas epidemias que assolavam o mundo, sabia bem do poder e das forças por traz de tais maldições.
– creio que devemos agora tratar dos assuntos relacionados aos querubins?
– sim! Claro, pois aqui estamos para decidir sobre vosso futuro. – o imperador demonstrou certo temor enquanto concluía sua fala.
Evágrio se, pois de pé contemplando as peças sobre a mesa, num profundo temor, seus olhos varreram o grande salão pairando sobre um homem de barbas esbranquiçadas num canto da sala.
– caro Eusébio, digna-te a nos falar sobre tais coisas, vossa sabedoria aqui é em muito maior que a nossa sobre tais assuntos.
O homem se, pois de pé desajeitadamente, enrolando alguns de seus pergaminhos e pondo-os sob seu braço enquanto alguns simplesmente caíram ao chão. Sua túnica branca cheirava a tinta e couro, e seus olhos vividos brilhavam enquanto se aproximava da grande mesa.
– senhores caríssimos, vossa majestade – o homem se curvou, – aqui estamos diante de tamanho desafio, não um simples e qualquer desafio, nem como nada que já tenhamos visto antes, pois se fosseis contra a carne e sangue como o amado apostolo já nos anunciara, certamente que nada nos abalaria. Mas cá estamos e diante de vós sobre a mesa verão objetos de aparência simplória, se não fora pelo aspecto dourado de um ouro mais puro já visto nenhum dos senhores os notaria, mas eis que diante de vos esta a chave que abre as portas do céu e do inferno. Esteve em poder dos judeus por séculos e depois se perdeu em mãos de vários governantes causando guerra doença e morte, ate que retornou a Esdras, e ficou oculto ate os dias em que os templários em uma de suas incursões por Jerusalém os obteve, não todos, pois nunca poderiam ficar unidos em mãos mortais que não tivessem a linhagem sagrada dos querubins, mas em parte assim se tornaria seguro os manusear, por isso aqui estamos com três das quatro partes do grande enigma de Deus dado aos homens e construídos por Bezalel, diante de vós estão os querubins sagrados.
Vozes simultâneas puderam ser ouvidas e um som como de varias abelhas tomaram a sala, alguns demonstravam tamanho temor que lhes faltavam o ar, enquanto outros gesticulavam suas mãos em atos de desaprovação.
– queres que acreditemos que diante de nós estão os querubins da arca? Disse um com voz sarcástica.
– e se fores! Por que não vendemos e compramos um bom vinho.– gritou outro enquanto ria.
Do canto da sala se levantou uma figura diferente, um homem de vestimenta negra, com peles de lobo sobre os ombros, um aspecto de caçador. Seus paços foram firmes em direção a mesa, suas mãos grandes tocaram os objetos fazendo com que eles brilhassem. A sala ficou em silencio diante de tal figura.
– RE.ALU. DNVA!
O homem de vestimenta de peles pronunciou lentamente. Os objetos então tremeluzindo sobre a mesa flutuaram até altura de dois metros expandido um brilho dourado tal qual os raios solares e um tremor começou abalar o castelo, causando pânico em todos que ali estavam. O imperador observava apático e sem expressão aos eventos a sua frente contemplando a beleza aterradora dos querubins
– Silanar von Raseck! Já basta!
***
Padre Raseck suspirou profundamente enquanto observava alguns prédios e casas ao redor de Gamlehelgen, Eny apenas observava atônito a figura de Raseck a sua frente, tentando digerir as informações que recebera do padre. Compreendera agora que essa guerra entre a luz e as trevas o bem e o mal é mais antiga do que ele imaginava. Compreendeu que seus atos o levaram a uma guerra milenar, sangrenta e diabólica.
– Assim Enelac, os Raseck se tornaram guardiões da humanidade, muito antes de mim ou de você, ou de qualquer um que já tenha conhecido. Tudo isso começou com Bezalel Raseck.
13- Uma Escolha Dois Caminho
Inevitavelmente o mundo que eu conhecia mudou o sorriso das pessoas a luz do sol o cheiro no ar. Tudo mudou de tal maneira que não consigo explicar. Um aperto no peito me sufoca a respiração e um desespero incomum toma conta de mim. Não foi nem será fácil para a maioria das pessoas que vivem aqui, mas para mim é ainda mais angustiante e tenebroso. Medo... Talvez essa seja a sensação que sinto agora, que sinto desde o dia em que acordei na velha cabana, na colina das almas. Depois de tudo pelo que tenho passado pergunto-me se realmente valeu a pena, ou se foi apenas egoísmo de minha parte, pois afinal os mortos devem descansar, mas eu fiz oque ninguém mais poderia ter feito. E por um instante sinto-me arrependido de tudo.
– talvez esteja confuso jovem Enelac, mas saiba que todo ser vivo tem seu destino traçado pelos deuses, e eles brincam com todos os mortais, e quem sabe até mesmo com os imortais. – Pymatu disse de forma melancólica.
O demônio não tinha o aspecto anterior, sua aparência era mais humana e menos grotesca que antes, outros que passavam ao lado podiam velo, me fazendo crer ainda mais que aquilo nunca fora uma loucura de minha cabeça. Ali estávamos diante do lago do parque de foggy city, rodeados por arvores e residentes com cachorros em coleiras. Alguns apenas andando outros caminhando, observando um sol que irradiava entre nuvens, e sentido o frio gelado do final do inverno. Procurava em minha mente não estar ligado a nada disso, mas as escolhas foram feitas e decisões foram tomadas. Algumas das quais não tenho agora como fugir.
– aceita? – Pymatu me oferece pipoca.
– não sabia que demônios comiam? – concluo com ironia.
– não comemos, é claro! Mas é mais como um passo tempo, e ajuda em nossa interação com os mortais.
– assim como fazem com o sexo? Nem se quer sentem prazer creio eu, demônio Pymatu.
Um brilho cintilante correu pela face de Pymatu, enquanto comia mais uma pipoca. Observava as pessoas que caminhavam pelo parque de uma forma serena.
– são todos como criança jovem Enelac, cada um de vocês.
– me pergunto há quanto tempo vocês existem?– interrompo.
Pymatu olhou friamente para o céu como que vendo além das nuvens cinza que cobriam foggy city. Sua expressão não era tão assustadora e grotesca como antes, nem me sentia aterrorizado por estar ali tão próximo de um demônio.
– sou um original, existo a mais tempo do que você poderia conceber em sua mente mortal jovem eny. – lançou o pacote de pipoca ao chão, – agora falemos sobre o padre e sobre oque descobriu de importante para nós.
A grande verdade que não devemos esquecer nunca. No jogo das trevas somos os peões e se não formos fortes o bastante seremos lançados de um lado para o outro sem ter a certeza de chegar a lugar nenhum, e quando somos joguete das trevas, as trevas jogarão com sua alma e com a sua mente. Tudo se trata disso.
– tudo se trata do que vocês querem, – falei em voz alta.
– descobriu onde esta o querubim da arca? – insistiu o demônio de forma enérgica.
Minha mente vaga novamente por entre as sombras da duvida, e vem a minha tela mental imagens de tempos felizes, onde o sorriso daqueles a quem amo, se pareciam com o brilho do sol a iluminar a alma.
– Raseck me deu uma escolha, eu tenho duas direções a tomar, e ambas me levam a morte Pymatu. Ambas as escolhas que tanto o homem obscuro quanto o padre me deram, me levam a um mar de sombras que consumira minha vida e minha alma.
– garanto que se cumprir nossos objetivos, pouparemos sua vida. – Pymatu, soou melodioso, uma melodia fascinante, que envolveu a mente e o espirito, por alguns instantes.
“um encantamento”
Existem duas formas de se crescer como ser humano e como espirito um caminho duas direções que nos fazem evoluir, uma delas é o amor com o qual a divindade se manifesta em nosso dia- a- dia em nossa vida. A outra é a dor causada por nossas ações egoístas e impensadas. Essa segunda nos torna forte, implacáveis e duros como as rochas, crescemos de tal forma que não somos mais como crianças, mas nossos sentidos aguçam e nossa força aumenta, nossos instintos falam mais alto e algo adormecido dentro de nós cresce ainda mais.
***
– Aprenda uma coisa garoto, – disse Raseck olhando-me fixamente. – os demônios só desejam uma coisa... Liberdade! E por ela estão dispostos a tudo. Eu poderia te matar agora mesmo, mas não o farei... Por anos tenho feito coisas das quais não me agrado e por isso agora busco uma redenção talvez, uma absolvição por tudo que já tive que fazer. Mas ainda me resta uma ultima batalha, afinal estamos aqui por honra de nosso senhor Jesus cristo e da santa igreja e do santo papa, e nenhum mal será permitido adentrar os portões da terra, esse é o meu caminho e minha missão. Amem.
***
Demônios querem liberdade... As palavras de Raseck nãos saem da minha mente. Elas me trazem de volta fazendo com que o encantamento de Pymatu não tenha qualquer efeito sobre mim. Percebo que o demônio fica por alguns instantes perplexo, olhando-me com certa curiosidade.
– é fascinante! Exclama sorridente, trazendo de volta sua forma demoníaca.
– oque é fascinante demônio! Grito em meio à onda de energia e vento.
– como vocês conseguem evoluir tão bem!
*Wooosh!*
O vento faz com que algumas pessoas no parque se assustem, outras apenas olham para ambos os lados tentando entender o que se passa, mas nada resta ali para que eles vejam. Ver é uma qualidade daqueles que trazem em si o dom da coragem da curiosidade e da vontade.
– Enelac! Você esta bem? – a voz de Yrrami soou como um balsamo em meus ouvidos.
– sim estou! Repondo enquanto me apoio em seu braço.
***
– terá que fazer uma escolha jovem Enelac. – disse Raseck antes de abri à porta e me deixar sair.
***
Em meio aos dois caminhos encontrei uma terceira opção uma que talvez não me levasse à morte, escolhi o caminho único que me restava com a chance de salvação. E esse caminho me levou diretamente a ela... Yrrami.
*Toc! Toc! Toc!*
– Entre Enelac stormy, estávamos esperando você.
Yrrami tinha um sorriso acolhedor nos olhos, e todos do coven emitiam uma aura de amor proteção e coragem.
0 comentários:
Postar um comentário