Talvez surpreenda muitos aspirantes espirituais do mundo a
idéia de que "sonhar" é uma obra mágica a que não se dá demasiada
importância, já que o ser humano a realiza constantemente e faz parte do seu
contexto psicológico habitual.
Mas ocultamente sabemos que as raízes do sonho se encontram
no poder criativo da Mente de Deus, dentro de cujo seio imenso todos estamos
imersos.
De acordo com essa idéia, a primeira pergunta que nos ocorre
é: o que é, exatamente, o sonho? Ou melhor: de onde brota esse manancial de
conglomerados psíquicos de fatos e circunstâncias que a consciência humana vive
quando, parcialmente liberada das limitações do corpo físico, se refugia nos
mundos internos que são suas outras moradas, mais íntimas e mais secretas?
Sonhar – ocultamente falando – é uma atividade criativa que
surge do mais profundo do ser humano. Senão, como explicar as cenas às vezes
tão bem alinhavadas que, surgindo dos níveis mais ocultos e desconhecidos da consciência,
formam os inefáveis quadros psicológicos com que a alma expressa seus íntimos
desejos, secretas esperanças, ocultos temores e suas insatisfeitas ânsias de
afeto, de segurança ou de consolo?
Embora ao longo da vida pessoal ou social a criação mágica
do homem esteja logicamente condicionada pelas operações do karma e ele não
possa pensar, sentir ou atuar com plena independência e arbítrio, encerrado
dentro do "círculo-não-se-passa" que a lei kármica ou o destino lhe
impõe, pode atuar mais livremente nas zonas sutis de sua própria natureza
espiritual durante o período de repouso físico, uma vez que a consciência
liberta-se parcialmente dos condicionamentos corporais.
Pode decidir, então, o que realmente quer ser, libertar-se
do jugo habitual e criar as situações psicológicas que lhe são negadas na
corrente vida física.
Devido a essa circunstância, a alma humana vive no sonho, o
que lhe é impossível ou muito difícil realizar durante o período de vigília e,
utilizando o poder mágico que Deus lhe conferiu, "fabrica", além do
"círculo-não-se-passa" imposto pelo karma, as circunstâncias ou os
fatos que anela ardentemente viver ou o inevitável destino que quer esquecer.
Esotericamente
falando, "sonhar é sinônimo de viver". Durante os sonhos, os pensamentos
e desejos se fazem objetivos e, enquanto duram, as cenas fabricadas pela alma
são fatos reais, às vezes muito mais reais que os vividos em nível físico
durante o período de vigília da consciência.
O estado de consciência, durante o sonho, guarda certa
semelhança com o estado de consciência "devachânico" no qual a alma,
completamente liberada das travas impostas pelos veículos periódicos de
manifestação, o mental, o astral e o físico, vive a sua própria e inconfundível
entidade espiritual nos níveis mais sutis de sua infinita natureza divina.
Em todo o caso, o processo mágico do sonho é altamente
científico e reside naquela arte inata no ser humano de agrupar as memórias
acumuladas no mais profundo dos seus extratos de consciência e nas raízes do
próprio inconsciente coletivo da raça com a qual se acha muito íntima e
profundamente vinculado, e utilizá-las como material ou substância psíquica
para construir em seus sonhos as cenas que decidiu representar como ator
principal.
Esse processo de dar forma às memórias acumuladas no
subconsciente individual e racial, de acordo com estados peculiares de
consciência, é tecnicamente MAGIA, uma arte suprema que todo ser humano – não
importando a sua condição espiritual – realiza como uma esperança excelsa de
redenção divina.