04- No Píer
CENA 04
As
nuvens no céu estavam cinza e uma brisa fria soprava os lindos fios ruivos de
Haravave. Ela tinha uma expressão melancólica nos olhos, enquanto observava as
ondas prateadas quebrando na orla. Suas pernas cruzadas com as mãos entre as
coxas demonstrando que sentia frio mesmo estando bem agasalhada com uma blusa
grossa e um xale em volta do pescoço. Com
as águas do mar tão escuras naquela tarde o azul nela me fazia ter uma
impressão indelevelmente boa de paz, harmonia. Caminhamos ate o píer depois de
um almoço silencioso em meio às conversas de transeuntes a nossa volta.
Haravave demonstrava inquietação e preocupação. Ela já vinha tendo essas
reações somente eu não observara atentamente ate esse momento. A dias estamos
envolto em silêncio e isso nunca foi normal para nós dois. Convivemos juntos
desde o colegial, ela sempre foi minha amiga, vi Havy, se desenvolver, crescer
em muitos aspectos, e não me lembro quando foi que meus sentimentos por ela
mudaram. Desde então minha luta foi tentar esconde-los. Meu medo de que se ela
soubesse algo sobre isso, a fizesse se afastar de mim, e certamente não quero que ela
se afaste. Mesmo que seja uma tortura ouvir suas aventuras, sobre amor,
paixonites e ate mesmo sobre sua fascinação doentia por Troy delener, um tipo
conquistador mulherengo capitão do time de futebol que adora aparecer. “Troy é
um cara de sorte”, e eu sou apenas o azarão que corre sem ter chances de chegar a
lugar algum.
— você
desistiu?
Realmente
seus olhos são tão lindos, penetram minha alma, a tristeza em suas mínimas
expressões são visíveis para mim, a tal ponto que sinto vontade de morrer, uma
sensação nostálgica toma conta de mim e por alguns segundos tento evitar
encara-la de frente.
— eny!
Não faz assim! Havy toca meu braço com força me chacoalhando como que tentando
me acordar de um transe, — já faz muito tempo Eny, acho que precisa deixar tudo
isso para trás, mas não dessa forma que esta buscando. Conclui Havy.
— não
sei oque esta falando, eu apenas estou tentado deixar tudo isso para trás de
uma maneira que eu consiga me sentir realmente bem, não sei mais o que esperar
disso realmente não sei ate onde eu tenho culpa na morte dele e isso...
Hav,
de um salto me abraça abruptamente me fazendo calar. Seu rosto é macio e gelado
sua respiração esta ofegante me fazendo desejar nunca sair daquele lugar, estar
em seus braços me trás uma sensação de segurança... Não... Esquecimento. Poucos são os momentos que não vejo diante de
mim, o momento em que meu irmãozinho Folley se foi bem diante dos meus olhos e
eu não pude fazer nada. Tem um ano que eu o perdi, ou melhor ele foi tirado de
mim, mesmo que em meu coração eu sinta torrentes inundantes de acusação.
—não
foi sua culpa eny, você não podia ter feito nada. As coisas acontecem e de
certas maneiras que talvez nunca iremos descobrir o porquê?
Hav
segurava meu rosto de maneira firme me forçando a olha-la nos olhos, tentando a
seu modo me fazer ver uma realidade que para mim é obscura e distante. Ou
simplesmente tinha medo do que eu estava disposto a fazer. Até mesmo eu me
pergunto se isso é realmente algo certo a fazer ou apenas uma maneira de me
matar sem que para isso eu tenha que usar as minhas próprias mãos. Hav sabe, eu
contei tudo a ela, desde o momento em que eu estava na biblioteca fazendo meus
estudos normais e ele apareceu. Um homem misterioso usando trajes escuros com a
face semicoberta por um chapéu negro, quando ele parou diante de mim e me
ofereceu respostas. “eu tenho as respostas que você procura desde que tenha
coragem para não ser mais quem você é” após falar isso depositou sobre a mesa
um velho papel dobrado e desapareceu assim que o peguei, e li em escrita
vermelha, bem desenhada.
A velha cabana
na colina das almas
Esteja lá as
22horas
No
papel havia um desenho em relevo, mas como já estava demasiado gasto pelo tempo
ou por estar mal guardado, não pude identificar. Hav se preocupava, tinha medo,
pois não sabia ao certo de quem ou com quem eu estava lidando. Ate mesmo em
meus sentimentos mais profundo penso se realmente seria uma boa ideia fazer
isso. Afinal e no final tudo não pode passar de um trote do Troy e de sua
gangue imbecil, a fim de me fazer de palhaço, já os vi fazer isso, muitas vezes
os vi atormentado os mais fracos e os humilhando. Mas aquele homem obscuro
tinha algo que não me deixava mais dormir, uma inquietação no espirito que me cutucava
noite após a noite depois do dia em que eu o encontrei na biblioteca.
—não
pode aceitar um convite de alguém que você nunca viu, a colina das almas é um
local perigoso tem lobos na montanha, todos sabem, estamos no inverno e a neve
e o frio serão intensos nesses dias—, argumentou Havy.
—havy
eu sei e entendo sua preocupação, mas é algo que estou realmente decidido a
fazer, tenho ponderado sobre isso há muitos dias você sabe, estou certo de que
não vou encontrar nada lá além de frio e gelo.
Talvez
esteja mentindo pra mim mesmo, todos aqui conhecem os perigos que rondam as
montanhas e a floresta, ninguém ousaria subir para lá nesta estação, não da
forma dura que esta sendo esse inverno, mas eu não sinto medo, mas apenas um
vazio insuportável que nada consegue preencher nem mesmo o terror de ir a
colina das almas.
—realmente
não sei mais oque disser a você que possa ter um efeito positivo, ou que faça
você mudar de opinião.
Uma
lagrima escorreu pela face de havy, entre as sardas douradas, e senti uma agulhada
no estomago, me fazendo engolir em seco, a tristeza de havy me abalara muito, a
tal ponto que precisei conter minhas emoções.
Ela me
abraça novamente, não... Eu que faço isso, trago-a de encontro ao meu corpo e
tento confortá-la;
—eu te
amo eny, não quero que nada aconteça com você, você é a única pessoa que eu
tenho e ficar sem você ou se quer imaginar não vê-lo mais me faria desejar a
morte, você é meu único amigo.
—eu
vou ficar bem, prometo. Apenas preciso ir em busca das respostas, e sinto que o
homem obscuro as pode me dar,— desta vez eu seguro a face de havy olhando-a
diretamente nos olhos,—escute eu vou ficar bem eu prometo, nada vai me fazer
mal.
—você
promete?
—sim!
Dou minha palavra. Agora precisamos ir esta ficando tarde e você esta toda tremula
e com frio.
—sim
eu estou mesmo. Concordou havy secando as lagrimas com as mangas de sua pesada
blusa.
—sua
maquiagem ta toda borrada, vamos você esta horrível.
—por
culpa sua seu idiota! Disse ela enquanto me socava de leve os ombros e
sorrindo.
O sol
entre as nuvens agora tinha um aspecto prateado, o por do sol ali no píer era
lindo de se observar, momentos assim eu levaria comigo por toda a minha vida.